2005/04/22

LEITURAS (especialmente para a CC)

“Memórias das minhas putas tristes”

O livrinho (é pequenino) estava à espera numa lista que tem vindo a aumentar na razão inversa do meu tempo disponível. Leia-se: tempo com paz de espírito para ler.

Tempo há sempre. Disponibilidade para o viver é que nem sempre.

O post da CC fez-me passá-lo para a lista de prioridades e já o li três vezes. Procurei nele, sem encontrar, a visão triste que me pareceu ter deixado na CC.

O livro, que quanto a mim tem sido injustamente considerado “menor” na obra de GGM, é de facto uma pequena delícia e por isso me associo ao conselho da CC – leiam-no!



A história é muito curiosa.

Um velho de noventa anos, deliberada e militantemente solitário toda a vida, cede, finalmente, à tentação de amar; ainda que, ou talvez por isso, amando um ser adormecido.

Isso acontece-lhe, surpreendentemente, quando tinha preparado o acto final e definitivo da sua longa carreira de desamores para comemorar os seus noventa anos.

Diz ele, procurando explicações, que foram as putas que não lhe deixaram tempo para amar. Putas a quem fazia sempre questão de pagar ainda que algumas o não quisessem.
Percebe-se que nunca gostou da sua própria imagem e de si próprio e esta explicação parece mais verosímil do que a falta de tempo roubado pelas putas.

Não se sente, porém, amargura, resignação ou arrependimento quando o velho olha para trás. Observa o seu passado com o distanciamento e objectividade de quem nunca se levou muito a sério.

Sente-se, isso sim, a alegria adolescente e emocionalmente caótica da descoberta, apesar de inevitavelmente curta. Um homem de noventa anos saberá, certamente, que a felicidade é, por natureza, tão fugaz que há sempre tempo para ser vivida em qualquer idade.

A velhice, que nunca até aí verdadeiramente reconhecera nem por “desamar” nem por amar, revela-se-lhe, surpreendente, pela dificuldade de suportar o ciúme e a ausência.

São duas das “suas putas tristes”, especialistas em tristeza, que o convencem de que a sua descoberta é demasiado valiosa para ser desperdiçada.

E de repente, o velho encara com optimismo a próxima década.


Comments:
Post scriputm: claro que se trata de uma fábula.
 
Ainda bem que eu já li o livro.
Se me quiserem fazer um resumo dos do Saramago, agradeço, pois não tenho paciência para os ler.

DEX
 
parabéns NR... eu não faria melhor... o Gabriel escreveu aquilo mt bem... mas mesmo assim quem não leu... deve ler!
A Dex tá a fazer um pedido que eu já noutros comments anteriores fiz à MC e à CR... e agora fica tb pra ti NR... comecem pelo memorial do convento...
Agradecida..
mf
Dex.. como vês não tás sózinha...
 
Mas a DEX tem razão. Entusiasmei-me e acabei por contar tudo. Desculpem lá.
Quanto ao memorial tenho de o reler.
 
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